...conta me histórias...

...conta-me histórias daquilo que não vivi... ...ambos sonhamos vivê-la lado a lado... ...ambos vamos vivê-la lado a lado... ...ambos vamos construindo a nossa história...

sexta-feira, julho 28, 2006

O meu vizinho paquistanês #1

manhazinha...desci no elevador com um estranho...
olhei...
ele olhou..
.. estes encontros de elevador são sempre estranhos...
kem será esta personagem?
nesta nossa sociedade moderna nem conhecemos a população que circula no prédio.. será vizinho? visitante nocturno de alguma vizinha :O) ?
de repente ele abre a boca e diz "uhm... davidof.. gosto bastante"
a minha expressão deve ter mudado bastante porque ele achou que devia justificar-se "muito prazer. sou AhKim. moro no 10º", enquanto estendeu a mão...
"também uso esse perfume" e sorriu...

terça-feira, julho 25, 2006

Braço de ferro #2

“não vou jantar em casa hoje… com o ambiente de ontem não houve oportunidade para te dizer que vou jantar com o pessoal lá do departamento…”
(suspiro)
Lindo… não vem jantar… acho que as coisas não ficaram bem claras…
nem me quero lembrar de ontem… não consigo entender… fico mesmo de rastos…
“Tttrrriiiimmmm…. Trrrriiiimmmmmm….”
??!!
Sim? … o quê?!? Está no hospital? Mas o que se passa? Sim vou já para aí.. obrigado.
…só a ideia de que a poderia perder… deixou-me completamente desorientado..
olho-a assim a dormitar, por causa dos sedativos… fico a pensar nas nossas discussões parvas e… não fazem sentido…
.. temos tanto ainda que falar… pego-lhe na não e fecho os olhos…

quarta-feira, julho 19, 2006

Braço de ferro #1


Já?!?!?!
Bolas! Já são horas.
Que horror de noite.
Discussão atrás de discussão..
Fico triste quando as coisas acontecem assim.
Já deve ter saído.
Deixou um bilhete..

Final da partida #2

… quem será a esta hora?! está aqui uma pessoa a ver o jogo e… triiiiimmm – insistia o telefone…
foi naquele momento que recebi a notícia… não pode ser!!! uma revolta tomou conta de mim, esbracejei, mas os resultados eram os mesmos…!
“não pode engravidar” repetem do outro lado… caiu-me tudo aos pés… um nó no estômago…
.. também todos pareciam desalentados como se tivessem recebido a mesma notícia… senti uma tontura…
… de repente já não sabia o que estava ali a fazer… já nada sabia ao mesmo.. a cabeça esvaziou-se como que sugada pelo vácuo.. olhei para lado nenhum..
foi o contacto visual com o Francisco que me fez regressar à realidade.. ele disse qualquer coisa como “perdemos” … as lágrimas saltaram-me descontroladamente dos olhos… acho que balbuciei um “também perdi”…

terça-feira, julho 18, 2006

Tempos #2

“corta!! corta!! magnífico Manel! muito boa esta cena. gostei do trecho que improvisaste! captaste bem o que se vivia na altura.”
este puto tem mesmo jeito para isto… até parece que viveu o momento..
… já passaram quase 40 anos… mas parece que foi ontem.. devia ter a idade do Manel… e possivelmente aquele cabelo…
esse ano foi uma referência para toda uma geração … muita coisa aconteceu … o mundo andava agitado...
nós, os estudantes… sim, essencialmente a camada estudantil foi às ruas em várias cidades europeias, norte-americanas e latino-americanas…
.. impunha-se desafiar a tradição, abanar a ordem social e política conservadora… erguemo-nos e fomos reivindicar... a morte de che abanou-nos, agitou-nos!
… lutava-se contra as ditaduras que ampliavam seus poderes às custas dos apoios internos e externos e de muita repressão…. esta sede de liberdade percorreu corações e mentes, sobretudo dos milhões de jovens como eu, pertencente à classe média, dita letrada e politicamente esclarecida…

“bom. vamos dar continuação à cena! tudo a postos? Acção!”

domingo, julho 16, 2006

Final da partida #1


É o dia de todas as decisões.
Portugal - França.
Uma reedição dos clássicos duelos.
Reunidos em casa do Gilberto, os torcedores alinharam posições.
Dum lado, a ala francesa: o Alain, a Camille e o Jacques.
No outro lado, a ala lusa: eu, Cátia e o Gilberto.
Começo do jogo.
Emoções ao rubro...gritos..apupos..risos..
Chega o intervalo.
A euforia da ala francesa contrasta com a apreensao dos "bleu".
2ª parte..
Recomeço das emoções..
Camille fica retida na cozinha..ao telefone..
O desalento apodera-se da claque lusa..
Olho a espaço para a cozinha...
A expressão da camille tornou-se pesada..também ela desalentada..
Tal como nós, parece gesticular enquanto fala ao telefone..
Final de jogo.
A festa é do jacques e companhia..
Dirijo-me para a cozinha.
A camille tinha acabado de desligar o telefone.
"perdemos" disse eu..
Olha para mim..com os olhos molhados e responde me
"Também perdi"

sexta-feira, julho 14, 2006

Tempos #1

Estou exausto..
Sem fôlego
Escondo me neste recanto com a esperança que eles não me descubram..enquanto tento recuperar forças
Dura...muito dura esta luta..
Estamos em 1968...Lisboa..
Descobriram a minha actividade clandestina..
Filhos da puta! Estavam à minha espera quando ia fazer a ligação com o Celestino...
Se me apanharem, bem podem me dar porrada..filhos da puta...de mim não levam nada..
Chuii... Oiço passos apressados na minha direcção...São eles..cabrões...
Agora é que vão ser elas..

Quem passa... #2


Desligo o telefone.
Que notícia...
20 horas..
Já é bastante tarde...
Vou saír..
Desço serenamente as escadas..
Deixo me levar pelo vento quente que me acaricia o rosto...
Olho serenamente para tudo o que me rodeia..
Estou feliz..
Será que as pessoas percebem?
Será que as pessoas notam?
Com esta idade..novamente..que loucura..que feliz loucura...
Tantas pessoas apressadas...tantas expressões apreensivas..tantos olhares cansados..
Olho para aquela mulher..
Cruzamos olhares..
Parece me cansada...
Os olhares voltam a cruzar-se.
"Sabes..hoje estou imensamente feliz. Vou ser pai"..
Sorrio.
Ela retribui...

quarta-feira, julho 12, 2006

Quem passa... #1

caramba!! o relógio já não marcava as 18h.. a que me propusera sair…
@£@€€§£€@§ 20h?!?! eram 20h!!!
a mesa ficou com aquele ar de quem saiu à pressa.. os papéis perderam aquela organização do dia anterior… que se lixe!
… passei pela paragem do autocarro que me leva a casa… o volvo amarelo não está à vista e não tenho paciência para esperar..
nem passa um táxi sequer naquele momento… começo a viagem de regresso a casa a pé…
caminho sem fixar o pensamento numa coisa específica… dou comigo a olhar para as pessoas com quem me cruzo.. houve uma em particular que me despertou desta dormência.. aqueles olhos falaram comigo…não consegui desviar o olhar.. profundo, expressivo.. que me queria dizer alguma coisa..aliás toda a expressão facial daquele homem trazia uma leitura de vida. estava bem queimado do sol… as rugas denunciavam uma idade de quem já viveu bastante…
ah…e havia um sorriso naqueles olhos… que acabou por se transportar para os lábios. sim acabámos por nos cruzar a sorrir… a sensação que recebi foi a de quem está bem consigo mesmo… e aquele homem, que não me conhece de lado nenhum, partilhou comigo essa sensação de bem estar… e só foi preciso sorrir. obrigada.

Isso é que foi! #2

Deveria ser mais compreensivo..
Mas esta forma como ela me colocou a questão..
"Se não me deixas ir ver o concerto, vou na mesma. Sao os anos da Rita. Depois fico em casa dela".
Enfim..tenho que tentar ser mais compreensivo e aberto a estas modernices desta juventude.
Mas eu sei o que esta em causa...ela diz me que é um concerto, mas depois sei o que lhes passa na cabeça..sei o que fazem..
Também já o fiz..
Que saudades daquele ano..1968..
Paris...esquecemos por momentos a luta contra o regime, e vivemos...vivemos loucos aquele Maio pelas ruas de Paris...
Espero que nao tenho sido demasiado rude com ela..
Espero que esta noite ela regresse...

Isso é que foi! #1

… acho k foi nos anos da Rita…
fomos todos ver o concerto dos Clã a Monsanto… lá no parque do calhau..
o Miguel tinha umas cenas bacanas pra fumar.. beeeemmmm isso é que foi um ganda concerto… hahaha
nem sei que misturas fizemos… mas sei que o concerto.. opá… os sons.. os sons tomaram outra dimensão.. e as cores.. epá havia montes de cores.. e a girar..
e estavam carradas de gente.. buéess de people..

terça-feira, julho 11, 2006

Porta aberta? #2

Sempre veio..
Lembro-me daquele sangue quente que me corria nas veias quando tinha a mesma idade… e ainda corre.

Os ideais! Sempre os ideais! A perseguição dos ideais!
Atrás da porta penso naquela criança… como ficámos parecidos!
A verbalização das nossas ideias sempre foi uma batalha campal, mas esta última foi demais… pode uma discussão derrubar o que cresceu em 30 anos?
Inspiro e expiro nervosamente… de que está ele à espera para tocar à porta?
Ele que avance!

Porta aberta? #1


O esforço foi grande.
Mas decidi.
Vou falar com ele.
Creio que aquela discussão não merecia um desfecho assim.
Já lá vão dois anos.
Um pai e um filho não podem deixar de se falar assim, sem mais nada.

segunda-feira, julho 10, 2006

A companhia da manhã #2

Sentado na cadeira do Metro, parto para mais um extenuante dia de trabalho.
Passo os meus olhos de forma desinteressada pelo livro que me tem acompanhado.
Olha para a janela: "Chiado".
Saio.
Entediado, resolvo subir a pé a longa escadaria da estação.
Exausto, inicio o caminho diário.
Olho distraido para as janelas. Um rosto me parece familiar.
Eras tu.
Olhas na minha direcção. Cruzamos olhares.
Estavas naquele café que nos era tão familiar.
Os meus olhos perguntam "posso ir ter contigo?"
A resposta parece dubia.
Decido contornar o quarteirao e ir ter contigo.
Entro no café, apressado; meus olhos procuram aquela mesa...aquela janela.
Já não estás. Saíste.
Desalentado, sento me no único lugar que há pouco estava vago.
Peço o café matinal e olho para a janela, com a ténue esperança que te possa rever..

A companhia da manhã #1



… está uma manhã morna…
não há nada de apetitoso no frigorífico…
saio.
o chiado recebe-me de portas abertas.

reservou-me um lugar ao lado daquela grandiosa janela.
inclino-me sobre outra realidade e abstraio-me da vida que se desenrola neste espaço temporal.
lá fora o castelo inspira o café quente que trouxeram e segue a leitura que escolhi para companhia nessa manhã.

mas, pelo sim pelo não, a cadeira à minha frente fica disponível…